Um novo desenho da Defesa Civil

por JOÃO RENATO ALVES PEREIRA
Professor Mestre de História, Ex-Secretário de Saúde, Vereador e Prefeito de Iracemápolis

Terminada a Primeira Guerra Mundial, a França continuou voltada para a visão do passado em termos estratégicos e imaginou o futuro com o mesmo olhar, esquecendo-se do dinamismo dos fatos, da evolução e da não repetência histórica. Construiu majestosamente a Linha Maginot, pois no conflito mundial, a característica principal foi a imobilidade do front, reproduzida nas trincheiras estáticas. A solução nada acertada foi “modernizá-las”, para um próximo conflito, tornando-as mais confortáveis para os compatriotas, protegidos então pelas intempéries, classificadas como a verdadeira inimiga, devido ao rigorismo que precede o inverno e ao próprio, quando se combate durante anos a céu aberto. A França esqueceu-se de levantar o olhar além de suas fronteiras e entender que o seu adversário não seguiria o mesmo raciocínio no caso de um novo conflito, como de fato ocorreu. A Alemanha pensou diferente e investiu na estratégia da mobilidade relâmpago e compacta, a “blitzkrieg”, e venceu a primeira etapa da Guerra Mundial, com uma estratégia nova.
Os conceitos que fundamentam a Defesa Civil em nosso país estão alicerçados nos tempos da Segunda Guerra Mundial, portanto com uma visão geopolítica defasada e anteriores ao Aquecimento Global e suas conseqüências. A Guerra Fria foi ideológica e poucos riscos trouxeram de fato, a Paz Armada, a polarização entre Estados Unidos da América e União das Repúblicas Soviéticas, muito embora fosse o período em que foram idealizadas e produzidas as verdadeiras Armas de Destruição em Massa, controladas no âmbito das duas potências rivais. Pós Guerra Fria houve uma disseminação dessa tecnologia em direção aos países periféricos e considerados de baixo desenvolvimento, e disparada uma Guerra Cultural entre o Ocidente e o Oriente com a formação de um novo Eixo, com a Nova Rússia, Nova China, Índia, socialismo latino-americano libertacionista e nações islâmicas, e, ações de grupos terroristas independentes de estados nacionais, elevando-se a temperatura mundial.
As conseqüências do Aquecimento Global já são sentidas em todo o Planeta Terra salpicadas de catástrofes em 2007, ano considerado recorde nesse item mencionado. E hoje até as previsões mais otimistas estão recuando numa velocidade preocupante. Pairam no horizonte escuras nuvens na geopolítica da fome, nas epidemias planetárias, na economia mundial, demonstrando vulnerabilidades, fragilidades, lacunas e incertezas.
A Defesa Civil precisa observar o relógio simbólico de Chicago e se posicionar em rede nos três níveis da federação e atuar regionalmente, sair de seu nicho e integrar-se no tecido social, sua razão, seu habitat, sua finalidade. Isto vale para o Município, Estado e União. O envolvimento do cidadão deve ser buscado sempre em todos os momentos e principalmente na elaboração de um Plano Estratégico de Defesa Civil, vislumbrando-se os possíveis cenários, direcionando-se as ações, recursos e soluções tanto em termos de planejamento, como socorrista e de apoio.
Deve preparar-se para utilizar-se dos diferentes meios de comunicação de massa em quaisquer momentos e organizar uma rede de rádio-amadores no país, pois avisos e comunicados podem salvar vidas, minorar estragos, agilizar socorros e possibilitar o restabelecimento de condições mínimas de sobrevivência da população afetada, se houver a organização em rede.
O Estado, nos seus três níveis de organização deve promover cursos específicos e temáticos, promover campanhas educativas, treinar voluntários e a população em geral e implantar o conteúdo Defesa Civil como tema transversal nas escolas, encarando-o com exercício de civismo, na prestação de solidarismos. Deve manter reservas estratégicas de todos os itens essenciais para a sobrevivência da população, disponibilizando-os de acordo com critérios técnicos, visando sempre o bem comum. Deve valorizar o tempo de voluntariado, como ação social relevante de fraternidade, destacando-o como integrante da Defesa Civil Nacional.
A Defesa Civil deve buscar sempre a integração e o envolvimento de todos os setores organizados da sociedade civil, como tarefa precípua, pois é no tecido social que atua e de quem está a serviço, integrando-a com os órgãos do poder público relacionado com sua área de atuação.
Se quisermos ter de fato uma Defesa Civil moderna e eficaz no país, em todos os Municípios, devemos isentar de impostos todos os itens que a mesma utiliza e possa utilizar para que se equipe e se mantenha equipada, para as eventualidades atuais.